quinta-feira, 6 de março de 2014


Considerações sobre o AEE para pessoas com surdez


Assistimos, há séculos, um embate entre oralistas e gestualistas no que diz respeito a educação da pessoa com surdez, onde o foco dessa discussão está no fracasso e culpa dessa ou outra língua utilizada. No entanto, já há uma nova concepção da pessoa surda como um indivíduo que tem apenas limitações perceptivas, sendo assim, plenamente capaz de desenvolver outras habilidades.
É preciso construir um campo de comunicação e interação amplo, onde as línguas tenham sua importância, sem ser, no entanto, o centro de todo o processo, para assim, evitarmos a dicotomização com caráter puramente segregacionista.
A tendência bilíngue se mostra promissora nesse sentido, já que valoriza as duas línguas na aprendizagem da pessoa com surdez, mas essa tendência deve estar junto a uma proposta pedagógica totalmente voltada para a inclusão, caso contrário, não terá grandes efeitos.
O Decreto 5.626/2005 determina a educação da pessoa com surdez através da Língua Brasileira de Sinais e da Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita e de maneira simultânea.
Ao compreender que o foco deve ser a transformação da escola e das suas práticas pedagógicas, é possível legitimar a construção do AEE para pessoas com surdez por meio da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva.
O AEE PS precisa ser pensado de maneira a conectar o pensar e o fazer pedagógico, possibilitando a interação entre professor e aluno em sala comum. Sendo assim, a Pedagogia Contextual Relacional mostra-se uma boa alternativa, já que se baseia em um ensino com contextos significativos, descartando tudo o que é inútil, sem valor real para a vida (Damázio, 2005). Esta é uma forma do aluno com surdez se sentir situado e compreender os conteúdos estudados com mais facilidade. Para efetivar o cotidiano escolar do AEE PS, aplicamos a Metodologia Vivencial que consiste em levar o aluno a aprender a aprender, através do estímulo ao ato de pensar e levantar hipóteses, constuindo assim, a aprendizagem significativa.
O AEE PS carece, num primeiro momento, de uma avaliação diagnóstica do aluno para possibilitar que o professor elebore esse Atendimento que envolverá três momentos: AEE em Libras, AEE para o ensino de Libras e AEE para o ensino de Língua Portuguesa.

AEE em Libras


Deve ocorrer diariamente, em turno inverso ao de aula comum do aluno, onde o professor acompanha o conteúdo oficial da escola e da turma do aluno e elabora suas aulas com riqueza de recursos visuais e até mesmo utilização de teatro, a fim de facilitar a aprendizagem do aluno sobre o conteúdo abordado. Essas aulas devem ser ministradas antecipadamente à apresentação do conteúdo em sala comum, garantindo uma melhor assimilação dos conceitos nas duas línguas.


AEE para o ensino de Língua Portuguesa


Esse atendimento deve ocorrer em turno inverso ao da aula em sala comum, ministrado por um professor habilitado em Letras e com bons conhecimentos sobre o ensino da língua para pessoas com surdez. O objetivo desse atendimento é possibilitar a geração de sequências linguísticas por parte da pessoa com surdez e necessita de amplo acervo textual, presença de pistas escritas pré-estabelecidas, ação diagnóstica por parte do professor e cuidado para que este não utilize a língua de sinais. Nesse atendimento, o canal de comunicação específico é a Língua Portuguesa, ou seja, leitura labial, leitura em escrita.
Svartholm (1998, p.42), compreendendo a importância da exposição da pessoa surda à língua portuguesa, defende ainda a precocidade desse processo:
A leitura de livros e revistas deve ser feita com crianças em fase pré-escolar, porque diverte, estimula e satisfaz a curiosidade da criança, e não por causa de objetivos educacionais. Através da leitura, a criança será bem preparada para o ensino posterior de uma segunda língua: uma postura em relação a língua escrita como algo divertido e interessante deve ser a melhor base para novos aprendizados.


AEE para o ensino de Libras


Esse atendimento deve ser realizado, preferencialmente, por um professor com surdez, a fim de que a aprendizagem seja natural que se evite o bimodalismo e deve ser planejado com base no diagnóstivo prévio e constante sobre os conhecimentos que o aluno possui sobre a Língua de Sinais.
O espaço para esse atendimento deve ser rico em recursos visuais e as verificaçõe de aprendizagem devem ser feitas por meio de fichas de acompanhamento da evolução do aluno.
O AEE de Libras oferece segurança e motivação ao aluno, sendo de extrema importância para a inclusão.

Referência:

DAMÁZIO, M.F. e FERREIRA J. de P. Educação escolar de pessoas com surdez – Atendimento Educacional Especializado em construção.






2 comentários:

  1. Bruna parabéns!!! Na minha opinião o teu texto está bem explicativo sobre a questão das três abordagens sobre a sobre a pessoa com surdez. também enfocaste detalhadamente os três momentos didático-pedagógicos do AEE.
    Parabéns!!!!

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    1. Obrigada, você é muito gentil Marlete, assim como você, sou novata nessa área e também estou sempre lendo tudo o que vejo sobre o assunto, espero que nosso esforço se reflita em nossas práticas.
      Beijos !

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